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Caminhada reúne participantes para celebrar as mulheres que construíram Porto Alegre

O envolvimento das mulheres na identidade da capital foi explorado a partir de edificações e monumentos do Centro Histórico.
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A Caminhada “As Mulheres na História e Arquitetura de Porto Alegre” chamou a atenção de quem passou pelo Centro Histórico no último sábado! A ação educativa cultural que celebra o Mês das Mulheres e também o Aniversário de Porto Alegre, reuniu mais de 100 pessoas para destacar o legado de mulheres que contribuíram significativamente para o desenvolvimento da cidade.

No comando do trajeto, a Arquiteta e Urbanista e guia de turismo, Cecília Esteve, apresentou uma parte da história de Porto Alegre que muitos não conhecem. Percorrendo pontos do Centro Histórico e explorando sua arquitetura, revelou indícios do papel — fundamental — que as mulheres desempenharam e que continuam a desempenhar na construção da nossa identidade e da nossa sociedade. Cada uma das cinco paradas feitas na caminhada serviu para abordar uma temática e pensar o papel da mulher na capital. O trajeto começou na Praça Dom Feliciano, em frente à Santa Casa, onde os participantes puderam ouvir a história da Roda dos Expostos, que foi criada com a finalidade de acolher e proteger crianças abandonadas. As crianças eram colocadas dentro de uma roda de madeira, especialmente construída para esse fim, por isso o nome. A roda existiu de 1837 a 1940, quando foi substituída pelo Berçário da Santa Casa.

Ali, Cecília refletiu sobre o papel do cuidado. Antes do Complexo Hospitalar da Santa Casa e as enfermarias existirem, as pessoas buscavam por uma medicina caseira, natural, com chás e benzeduras. A atuação de Ângela Veiúna, uma mulher negra, que morou no centro de Porto Alegre (Rua Bento Martins) em meados do século 18, foi crucial para a promoção da saúde de marinheiros doentes que necessitavam de amparo e também daqueles que já moravam pelo entorno. Ao cuidar de pessoas com enfermidades em seu albergue e de reclusos que passavam fome, caridosa, ela é lembrada até hoje pela sua solidariedade e dedicação aos moradores da região. 

Próxima parada: Quebrar barreiras

O trecho de caminhada mais longo foi entre a Santa Casa e a Praça da Matriz, onde Cecília contou o histórico da Igreja Matriz, da Biblioteca Pública, do Theatro São Pedro e do Palácio da Justiça. Aqui, relembrou as figuras femininas que mudaram o destino de tantas outras pessoas, como a professora Luciana de Abreu; Eva Sopher, à frente do teatro; e Terezinha Irigaray, Dercy Furtado e Julieta Battistoli, pioneiras na participação feminina na política gaúcha. 

Em seguida, chegaram ao Alto da Bronze, nome popular da praça General Osório. Foi nesta região que viveu Dona Felizarda: A Bronze. Natural de São Borja, veio morar em Porto Alegre em uma época em que o local ainda era pouco habitado.

Ela era uma mulher bondosa e discreta. Tirava a sorte em cartas, conhecia rezas e benzeduras para tirar o mau olhado e atendia mulheres que encontravam-se vulneráveis e que se envolviam sexualmente com os homens da cidade para sobreviver. Ao proteger e acolher essas mulheres, a Bronze foi alvo de olhares e opiniões preconceituosas. Ainda, Dona Felizarda também entendia sobre as políticas e os negócios da cidade. Segundo os escritos de Antônio Álvares Pereira Coruja, a Bronze era “a figura mais notável do bairro” e foi por sua causa que a região costumava ser associada à prostituição. A praça foi eternizada na voz de Elis Regina, na canção Alto da Bronze.

Elas sempre estiveram na história, mas não eram vistas

No famoso “Castelinho”, construído em 1948 a pedido de um político, a história de Nilza Linck ressignificou para muitos o edifício que era – até então – visto como “saído de um conto de fadas”. A arquitetura da opressão, representada ali, abriu debate para o papel doméstico das mulheres, uma vez que Nilza via o mundo apenas pela janela estreita do castelo. Ficou quatro anos encarcerada pelo seu companheiro, que era casado e não queria que ela transitasse pelo bairro.

No Museu do Trabalho, último ponto da caminhada, discutiu-se as mulheres nas relações de trabalho, quais eram as tarefas socialmente aceitas para as mulheres e o espaço delas na cidade. As quitandeiras e lavadeiras na Porto Alegre colonial foram grande parte da história do Centro.

Na fala de encerramento, Ciça e a Conselheira do CAU/RS, Carline Carazzo, dedicaram as palavras ao público.

“Agradeço pela energia de vocês em virem caminhar em um dia quente e obrigada a todo mundo que não é da área da arquitetura e que viu a divulgação e quis participar e aprender com esse grupo”, comentou Cecília.

“Em nome do CAU/RS agradecemos a vocês que participaram, esperamos que vocês tenham gostado, e muito obrigada principalmente à Ciça que coordenou, caminhou e fez esse trabalho”, destacou Carline.

Confira a galeria de fotos da Caminhada

DANI8251

Confira a reportagem da Record Guaíba

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