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4ª Edição do Concurso de Fotografia CAU/RS: conheça os vencedores

O tema da edição de 2025 foi "Memórias de Tempos Difíceis"
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fotografia

A 4ª edição do Concurso de Fotografia do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS) revela as imagens vencedoras que registraram “Memórias de Tempos Difíceis” em suas fotografias, retratando espaços no Rio Grande do Sul que guardam marcas de eventos traumáticos e de grande impacto social, como enchentes, pandemias, regimes autoritários, conflitos e violações de direitos.

O Concurso de Fotografias do CAU/RS - edição 2025 - selecionou um conjunto de 12 imagens impactantes sobre o tema das "Memórias de tempos difíceis”. Os temas trazem reflexoes sobre historias vividas no RS que precisam ser lembradas para que não se repitam e sejam objetos de reflexão sobre o que motivou estas situações.

O tema deste ano provocou reflexões sobre episódios históricos que não devem ser esquecidos, reforçando a importância da preservação da memória coletiva e sua relação com os espaços urbanos, a arquitetura e o território.

A banca julgadora composta por Luciano Antunes de Oliveira, Cristina Meneguello, Luiz Eduardo Robinson Achutti e coordenada pelo conselheiro do CAU/RS, José Daniel Craidy Simões, se reuniu na sexta-feira, 12 de setembro, para avaliar as imagens.

Entender a relação entre a arquitetura e urbanismo e as memórias difíceis é um tema atual e extremamente relevante; ainda mais em um estado cujas memórias traumáticas dos fatos que alteraram a vida das pessoas são ainda muito recentes. Essas imagens procuram registrar - e não esquecer - essas dores.

As imagens serão publicadas no Calendário 2026 do CAU/RS, além de serem utilizadas em outros materiais institucionais, como campanhas, exposições e nos canais de comunicação do CAU/RS, como site e redes sociais. As 12 fotos selecionadas foram premiadas com R$ 1500 cada.

Fotografia é memória mas também pode ser formação de consciência. Esse concurso da CAU/RS vem para valorizar essa linguagem.

Conheça as imagens vencedoras

Águas Suspensas | Bruno Diniz
A fotografia faz parte da série Águas Suspensas, ensaio fotográfico realizado durante as enchentes de maio de 2024, em Porto Alegre. As imagens, registram a transformação da cidade submersa, onde a água, ao invadir o território urbano, também altera a percepção do espaço, do tempo e da memória. O trabalho propõe uma leitura poética e simbólica do desastre. Nas superfícies alagadas, a cidade se reflete e se desdobra — criando imagens duplas e distorcidas. Esse espelhamento transforma o chão em céu e os prédios em espectros, instaurando um campo visual surrealista, onde realidade e ilusão se confundem. Esse cenário visual contribui para uma atmosfera de suspensão e estranhamento. A série evoca um tempo dilatado, de pausa e espera, onde os contornos do real oscilam diante da força simbólica da destruição.
Memória da Inundação | Mateus Bruxel
Em 5 de maio de 2024, o Guaíba atingiu 5,3 metros, o nível mais alto já registrado. Com o colapso do sistema de proteção contra cheias, Porto Alegre foi tomada pela pior inundação de sua história. Bairros inteiros eram evacuados, água e suprimentos acabavam na cidade, helicópteros cortavam o céu em resgates e ruas e avenidas só podiam ser percorridas de barco. Um ano depois, com uma das fotos que fiz durante a documentação da tragédia, voltei ao Mercado Público, no centro da capital. O objetivo era revisitar a memória de um trauma coletivo que não pode ser esquecido, diante da negligência de governantes e do agravamento da crise climática, com eventos extremos cada vez mais frequentes no Rio Grande do Sul. As imagens sobrepostas revelam o contraste da Porto Alegre inundada em 2024 e a transformação desse cenário ao longo do tempo.
Reflexão | Marco Antonio de Faria
Um momento paradoxal, a beleza arquitetônica e a tragédia entrelaçadas. Andando pelo centro de Porto Alegre, me deparo com um colorido inusitado frente ao cinza e ao caos que tenho ao redor. A água, que há pouco era destruição, agora se transforma em espelho, revelando não só a beleza da construção, mas também a vulnerabilidade do espaço urbano diante da força da natureza.
Protesto pelas mortes na pandemia | Inezita dos Santos Cunha
A pandemia fez aflorar todo tipo de sentimento, de um extremo ao outro. Durante o período foram feitos protestos pedindo vacinas com urgência, em face do desleixo e despreparo daqueles que governavam o país na época. A foto foi feita num dos protestos, salientando a quantidade enorme de mortes ocorridas em consequência da Covid-19.
A cidade foi engolida pelo Guaíba. | André Huyer
Visão de aspecto surreal da enchente de 2024, uma tampa de inspeção de esgoto sanitário cercada pelas águas do Guaíba, engolindo todos os espaços públicos circundantes, relembrando aos urbanos que a natureza pode a qualquer momento infligir tempos difíceis.
Marcas de uma agonia | William K Clavijo
A foto mostra a Estação Trensurb no Centro Histórico de Porto Alegre ainda chela e as marcas de água após a maior enchente de todos os tempos no Rio Grande do Sul, ocorrida em maio de 2024. As chuvas com grande volume de água em poucas horas e a demora de muitos dias para a volta à normalidade, revelam a impotência do homem perante a força da natureza.
Memórias à Deriva: O Passado Enfrenta as Águas do Presente | Neimar de Cesero
O casarão centenário de Santa Tereza resiste em silêncio à enchente de setembro. A água tomou tudo: ruas, lares, histórias — até um botijão foi lançado aos fios, como se fugisse do caos. Nesta foto, a dor de uma cidade inteira transborda pelas janelas alagadas.
CEMITÉRIO DAS IRMANDADES – Enchente 2024 | Renato Fontanari Thomsen
O histórico Cemitério das Irmandades, localizado em frente ao estacionamento do Hospital de Caridade e Beneficência de Cachoeira do Sul, em virtude de problemas estruturais teve o seu muro posterior derrubado há poucos anos. Com a grande cheia do Rio Jacuí, em maio de 2024, o grande barranco localizado nos fundos do cemitério colapsou rapidamente, levando junto grande parte dos jazigos representantes da arquitetura funerária do século passado.
Entre águas e rupturas: vestígios de passos interrompidos | Gabriele Vargas
O trapiche em ruínas se desfaz lentamente sob um céu azul, emoldurado por árvores quase nuas, testemunha silenciosa das enchentes. A luz baixa da tarde de inverno desenha sombras suaves, revelando a impermanência da vida e a força silenciosa da natureza. Entre silêncio e contemplação, a paisagem convida o olhar a perceber a passagem do tempo, as rupturas da vida e a sutil promessa de renovação. Em tempos difíceis, o renascer da esperança vem como o raio de sol que ilumina o horizonte após a tempestade.
Da lama, a lembrança | Tainá Letícia Piccolo
Pela janela, a paisagem revela mais do que destruição: revela memória. O horizonte transformado em lama cobre o chão de Encantado após as enchentes de 2024, revelando o que se perdeu e o que ainda resiste lá fora. O olhar atravessa o limite entre o abrigo e a cidade ferida. A fotografia registra esse instante liminar, em que a casa resguarda o corpo, enquanto o território devastado convida à reflexão.
Arquitetura que persiste | Maria Eduarda Fortes
Na fotografia, o Mercado Público de Rio Grande, no extremo sul do Rio Grande do Sul, surge cercado pela enchente da Lagoa dos Patos, que devastou cidades e transformou paisagens. Mesmo diante da força das águas, sua arquitetura permanece firme, seu reflexo forma uma cena espelhada na superfície alagada, ampliando a imponência do prédio histórico. Ao lado, um homem caminha lentamente pela água, trazendo um contraste humano à grandiosidade do cenário.
O que está acima? | Paulo Henrique Barauna da Silva
Um problema se esvaiu, mas outros ainda continuam persistindo, um morador de rua tendo como seu “teto” a marca d’agua deixada pela enchente. O quanto que ele pode dormir tranquilo e qual serão os próximos momentos a partir dali o apoio que terá se é que vai haver algum?

Saiba mais sobre os jurados:

Cristina Meneguello: é historiadora, professora livre-docente da Unicamp e doutora em História pela mesma instituição, com doutorado-sanduíche na Universidade de Manchester. Realizou pós-doutorado na Universidade de Veneza (IUAV) e na Universidade de Coimbra, e foi docente visitante em Padova e Artois. É coordenadora da Olimpíada Nacional em História do Brasil desde 2009 e atua em áreas como História Contemporânea, Cultura Visual, Ensino de História e Preservação do Patrimônio, com destaque para o patrimônio industrial.

José Daniel Craidy Simões: é arquiteto e urbanista (UNISINOS), especialista em Perícias e Avaliações de Bens (PUCRS) e doutor em Planejamento Urbano e Regional (UFRGS). Atua em avaliações, laudos técnicos, projetos e restauração de patrimônio cultural. Integra o ICOMOS Brasil (Núcleo RS), o IHGRGS e é conselheiro do CAU/RS (2024-2026), onde coordena a Comissão de Patrimônio Cultural.

Luciano Antunes de Oliveira: é arquiteto e urbanista (UFRGS), amante da fotografia e Gerente de Comunicação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul.

Luiz Eduardo Robinson Achutti: é fotógrafo e doutor em Etnologia pela Universidade de Paris 7 Denis-Diderot. Graduado em Ciências Sociais e mestre em Antropologia Social (UFRGS), iniciou como repórter fotográfico da Coojornal e trabalhou no Jornal do Brasil e na revista Isto É. Fundador da agência Photon/Fotografia e Notícia, é professor no Departamento de Artes Visuais da UFRGS e membro do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da instituição.

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